terça-feira, 14 de abril de 2009


"Ser feliz para sempre é aceitar com resignação católica o pão nosso de cada dia e
sentir-se imune a todas as tentações, então é deste paraíso que quero fugir. Não
estou disposta a inventar dilemas que não existem, mas quero reencontrar aqueles
que existem e que foram abafados por minha vida correta."

Trechos do livro " Divã", Martha Medeiro...


Divã é a história de Mercedes uma mulher de 40 anos
que decide procurar um psicanalista, a princípio por curiosidade,
mas acaba transformando sua vida.



Divã,de Martha Medeiros, livro com mais de 60 mil exemplares vendidos se tornou no teatro uma peça que ficou três anos em cartaz e foi vista por 175 mil pessoas. Agora a atriz Lilia Cabral revive, no cinema, Mercedes,a protagonista. As mulheres se reconhecem na Mercedes.

Numa entrevista dada por Lilia Cabral ela conta que vê a Mercedes como uma mulher que pensava que estava vivendo – tinha vinte anos de casada, era professora, gostava de pintar, o marido era advogado... Mas a partir do momento em que ela começou a falar, ela foi se conhecendo. E com isso ela viu que não estava vivendo. Ou melhor: ela estava vivendo, mas ela não era feliz. E o fato de você buscar uma felicidade não significa que você vai de encontro à felicidade.


A comédia de José Alvarenga Jr inspirada no livro de Martha Medeiros, trás a tona a vida de uma mulher definida por “moderna, inteligente, pragmática, divertida e super-feminina”. Aos quarenta anos com uma vida que parece ser realizada, por curiosidade e brincadeira Mercedes procura um analista. Um profissional feito esse é capaz de fazer uma mulher centrada e estável refletir sobre sua própria vida e questioná-la, discutindo os padrões que não são colocados em pauta na rotina.


Parece simples que “Para mudar, é preciso dar o primeiro passo”. Mas por vezes as pessoas não se dão conta disso. E divã,convida para refletir






http://www.youtube.com/watch?v=5W_S0QN522E



Cresça e divirta-se


Tenho viajado pra lá e pra cá acompanhando algumas pré-estreias do filme Divã, baseado no meu livro homônimo. Delícia de tarefa, ainda mais quando a gente gosta de verdade do trabalho realizado, e esse filme realmente ficou enxuto, delicado e emocionante. Além disso, ainda consegue me provocar. A personagem Mercedes (vivida pela incrível Lilia Cabral) está fazendo análise e leva pro consultório muitos questionamentos sobre sua vida. Até que, passado um tempo, finalmente relaxa e se dá conta de que não há outra saída a não ser conviver com suas irrealizações. Diante disso, o analista sugere alta, no que ela rebate: “Alta? Logo agora que estou me divertindo?”

Eu tinha esquecido dessa parte do livro, e quando vi no filme, me pareceu tão cristalino: um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate da nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só se consegue até certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão mais prioritária. Você é adulto mesmo? Então pare de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar lógica pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido controle. Simplesmente, divirta-se.


Não que seja fácil. Enquanto um corpo sarado se obtém com exercício, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, a leveza de espírito requer justamente o contrário: a liberação das correntes. A aventura do não-domínio. Permitir-se o erro. Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo a um mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada? Mil vezes curtir a travessia.

Dia desses recebi o e-mail de uma mulher revoltada, baixo astral, carente de frescor, e fiquei imaginando como deve ser difícil viver sem abstração e sem ver graça na vida, enclausurada na dor. Ela não estava me xingando pessoalmente, e sim manifestando sua contrariedade em relação ao universo, apenas isso: odiava o mundo. Não a conheço, pode sofrer de depressão, ter um problema sério, sei lá. Mas há pessoas que apresentam quadro depressivo e ainda assim não perdem o humor nem que queiram: tiveram a sorte de nascer com esse refinado instinto de sobrevivência.

Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria “má sorte”, num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco?

Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.

Martha Medeiros
4/04/2009