terça-feira, 21 de abril de 2009


Onde Estão as Violetas

Onde estão as violetas?
Na mão de etéreos meninos
Que enterram flores na areia,
Na areia consecutiva.

Túmulos de beija-flores
São essas vagas colinas
Sem consistência nenhuma
Sob as mãos inconsistentes
Que vão plantando violetas,
Violetas consecutivas.

Mudam de cor as violetas,
Vão sendo róseas e brancas,
E irão desaparecendo
Por ilusórios caminhos
Como, sem rosto, os meninos,
Meninos consecutivos.

Em tempos consecutivos
Quem pode ver esse mundo
Só de meninos, areias,
Túmulos de beija-flores
E sombras de violetas?

Cecília Meireles


“Permita que eu feche os meus olhos, pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora, e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça: que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo.”

Cecília Meireles
Herança

Eu vim de infinitos caminhos,
e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão.

Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,
essa vida, que era tão viva, tão fecunda,
porque vinha de um coração?

E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos,
do pranto que caiu dos meus olhos passados,
que experiências, ou consolo, ou prêmio alcançarão?

Cecília Meireles